*Por Roberto Franklin de Leão
O empresariado da educação, que insiste em "cavar" espaços em todos os
governos para proliferar suas teses falidas de qualidade total no ensino
público, anda furioso com a reação da comunidade educacional brasileira
ao nome de Cláudia Costin para assumir a Secretaria de Educação Básica
do MEC. Em razão da pressão social, Costin declinou do convite do
ministro Aloizio Mercadante, fazendo sepultar assim a expectativa do
empresariado de ver seus kits alfabetizadores e outros conteúdos
pasteurizados de ensino espalhados por todo País. Eles davam como certo
os novos lucros, e isso tem causado reação violenta do segmento.
Em artigo publicado na Folha de S.Paulo no último dia 27/11,
sob o título "Corporativismo, de novo, contra a educação", o presidente
do Instituto Alfa e Beto, sr. João Batista Araújo e Oliveira –
ex-secretário executivo do MEC na gestão Paulo Renato Souza/FHC, e muito
amigo de Costin – atacou os Sindicatos, as universidades públicas e
quem mais luta por uma educação pública de qualidade que priorize a
formação de sujeitos históricos (conscientes e independentes), e não
apenas a reprodução de fazeres em benefício exclusivo do capital, de
formarem oposição à educação do País.
Mas é preciso ter claro a que educação o sr. João Batista se reporta,
uma vez que participou da implantação do modelo neoliberal na educação
brasileira, e ainda hoje sobrevive da reserva de mercado criada à época
para suprir a falta de investimento público em diversas áreas
educacionais.
Apesar de combalido em todo mundo – e o povo brasileiro o tem rejeitado
nas urnas, na última década – o neoliberalismo, defendido pelo Instituto
Alfa e Beto do sr. João Batista, além de restringir direitos sociais e
de transferir riquezas públicas a particulares, visa reproduzir nos
sistemas escolares a ideologia dominante do capital, através de uma
pedagogia reducionista e adestradora.
Os testes de proficiência, enaltecidos pelo sr. João Batista e que são a
principal ferramenta de trabalho da sra. Costin à frente da Secretaria
Municipal de Educação do Rio de Janeiro, nada mais são que métodos
controversos voltados à afirmação sociocultural de uma política perversa
de conteúdos mínimos – mitigadora do saber plural e da democracia
escolar, na medida em que reduz o debate pedagógico a sistemas de
apostilamento com foco em provas conteudístas e não na formação para a
vida.
Do nosso ponto de vista, o objetivo da educação é conduzir as pessoas à
felicidade. Para aqueles que cumprem papel de capacho do capital em
troca de valiosas retribuições financeiras, obviamente, é difícil
entender, ou melhor, aceitar essa concepção educativa e que hoje é
reconhecida até por quem desenvolveu os testes estandardizados nos EUA.
Trata-se de compreensão que motiva estudantes chilenos a irem às ruas
protestar contra a mercantilização da educação em seu país, e que tem
orientado a maior parte da América do Sul, num futuro breve, a
consolidar uma União balizada em valores socioculturais fomentados por
sistemas de ensino plurais, democráticos e com outra perspectiva de
avaliação – diagnóstica, reflexiva, participativa, não punitiva,
indutora do saber, à qual conta com total apoio da CNTE.
Se for para ser taxada de corporativa e contrária à massificação da
ideologia mercantil na educação e contra os testes que a sustenta, sem
problemas. A CNTE até se orgulha dessa pecha! Mas é preciso que todos
mostrem a sua verdadeira cara e intenção nesse debate e que discutam as
teses de forma aberta, pois educação, apesar de ser direito subjetivo e
universal consagrado na Constituição, é um "bem público" em constante
disputa ideológica e por financiamento (público e privado).
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